O ministro das Finanças admitiu hoje que "nem tudo aconteceu de acordo com o planeado" no programa de ajustamento português.
O ministro das Finanças, Vítor Gaspar, defendeu hoje, em Washington, que "a União Europeia (UE) deve "respeitar a primazia das políticas nacionais" e admitiu, sobre o programa de ajustamento, que "nem tudo aconteceu de acordo com o planeado".
O ministro falava perante uma plateia de cerca de 100 pessoas, na Brookings Institution, um dos 'think thanks' mais antigos de Washington.
Vítor Gaspar apontou três pontos que considera essenciais para a estabilidade da Zona Euro: que a UE aceite a "dimensão nacional das políticas nacionais", que cada membro "mantenha a sua casa em ordem" e que as instituições melhorem a "integração de mercados financeiros".
Questionado sobre se o ajustamento em curso era estrutural ou facilmente revertível, o ministro respondeu que "é muito difícil de dizer", mas que uma parte do ajustamento, como o crescimento das exportações, "é permanente".
"Esperamos que a maioria seja dessa natureza", disse. Vítor Gaspar apresentou a implementação do programa como um sucesso, mas admitiu que, "para ser transparente", tinha de explicar que "nem tudo aconteceu de acordo com o planeado."
"O crescimento do PIB e os valores do desemprego são muito menos favoráveis do que era esperado", disse, acrescentando que o ajustamento se mostrou "consideravelmente mais custoso".
Referindo-se às taxas de juro praticadas em Portugal, admitiu "que uma empresa tem de pagar uma taxa substancialmente mais alta do que uma empresa com o mesmo perfil em França ou na Alemanha".
O ministro disse que o problema devia, "definitivamente, ser modificado com sentido de urgência" e defendeu a existência de uma "verdadeira e total união bancária, que opera ao nível da zona euro como um todo", como a forma de o conseguir.
O ministro usou o exemplo de Portugal recorrentemente, dizendo que os primeiros anos do país na zona euro foram uma "década perdida" de "forma dramática"; caracterizada por "um crescimento anémico, acumulação de dívida por empresas e famílias e défice público descontrolado".
"É claro que o país não jogou o jogo da estabilidade macroeconómica de acordo com as melhores práticas", disse.
O ministro disse que, suportado por um "histórico muito forte de implementação do programa", tinha transmitido aos parceiros a necessidade de haver uma flexibilização dos objectivos.
"Sinalizamos aos nossos parceiros (...) que acreditamos ser oportuno suavizar o perfil das obrigações das finanças" disse, acrescentando: "Estou muito optimista de que teremos esse apoio muito em breve.
Temos um compromisso firme do Eurogrupo para lidar com o assunto de forma expedita". Vítor Gaspar disse esperar "boas notícias ainda durante o corrente ano" quanto ao "aumento do investimento, tanto por empresários
portugueses como de investimento estrangeiro directo".
"Precisamos que a economia emirja da crise muito mais aberta, queremos ver muito mais competição interna, queremos que o mercado de trabalho seja mais flexível", disse o ministro, referindo-se ao país que espera encontrar no final do programa.
A viagem do ministro aos EUA começou na segunda-feira, em Nova Iorque, onde se reuniu com o presidente da Reserva Federal de Nova Iorque, William C. Dudley, e o vice-presidente, Terrance Checki, e teve um pequeno-almoço de trabalho com membros da comunidade financeira.
Na tarde de segunda-feira, Vítor Gaspar tornou-se o primeiro ministro das finanças europeu a encontrar-se com o novo secretário de Estado do Tesouro norte-americano, Jack Lew.
Esta tarde, reúne-se com Christine Lagarde, a directora-geral do FMI, e quarta-feira encontra-se com o presidente da Reserva Federal Americana, Ben Bernanke.