Nos últimos meses, o Brasil tem sido criticado por um
pretenso protecionismo comercial. Medidas como a elevação de tarifas
alfandegárias e o incentivo à produção nacional são vistas como contrárias ao
livre comércio.
Pergunta-se, todavia, se de fato essas medidas constituem
uma ação de protecionismo ou estaria o Brasil apenas exercendo seu direito de
defesa, garantido no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), frente ao
avanço da concorrência desleal em outras latitudes, particularmente no que se
refere a preços administrados, barreiras não-tarifárias, subsídios
governamentais e excessos de política monetária?
O Brasil opõe se ao protecionismo no comércio internacional.
Tem sido particularmente vocal no combate aos instrumentos impostos aos países
em desenvolvimento na forma de barreiras técnicas e fitossanitárias, assim como
na forma de subsídios aplicados aos produtores sob o manto de políticas
voltadas para a preservação do espaço agrícola. O Brasil considera que a
proteção artificial acaba por gerar desequilíbrios nas forças globais da oferta
e da procura, introduzindo elementos perniciosos na formação dos preços e na
alocação dos fatores de produção. Prova do imenso esforço que o Brasil tem
feito para defender-se do avanço do protecionismo está nos mais de 40 processos
antidumping em curso na OMC por iniciativa brasileira e nas cerca de 80
investigações já resolvidas com ganho de causa para o País, concedendo-lhe o
direito, nem sempre exercido de aplicação de salvaguardas.
O Brasil tem procurado manter-se afastado da crise
financeira. Conhece, entretanto seus efeitos adversos e , por essa razão, têm
lançado mão de medidas contra cíclicas, tais como incentivo fiscais, políticas
de emprego e estimulo ao consumo, todas com vistas à aceleração do
crescimento no curto e no médio prazo. A
estratégia foi bem sucedida em 2008/2009 e deverá continuar a gerar efeitos
positivos nos próximos anos. Nesse difícil cenário, não custa recordar que a
negociação de um acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul
passa a ser uma alternativa cada vez mais interessante para as duas partes.
Além de tornar obsoleta a maioria das disputas entre os blocos no âmbito da
OMC, o acordo poderia estimular o fluxo de comércio e investimentos pela
redução e eventual eliminação das barreiras tarifárias e não-tarifárias entre
as duas regiões.
Portugal seria
particularmente beneficiado nesse contexto, uma vez que poderia tirar amplo
proveito de suas vantagens comparativas, tais como a geografia voltada ao
Atlântico, a sua boa infraestrutura portuária e o seu parentesco histórico e
linguístico com o Brasil.
Mário Vilalva, Embaixador do Brasil
Adaptado do Jornal
Económico, dia 28/12/2012